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Rua dos alfarrábios


Por trás do paredão da Assembleia Legislativa, os livros povoam os dois lados da rua. De um, quiosques estreitos se enfileiram em procissão, os vendedores sentados à porta como quem observa o movimento dos carros. Nessa espera por clientes, viram quadro vivo: a paisagem dos livros os emoldura e torna a cena poética em meio a desordem urbana do Centro. Do outro lado, construções mais sólidas, de alvenaria, também abarcam uma infinidade de livros e discos de vinil.


A espera dos vendedores nunca dura muito tempo. Há sempre um passante em busca de algo. Conhecida popularmente como Rua dos Alfarrábios, a Rua Dr. Pontes de Miranda é referência a qualquer um que, em Maceió, deseja se aventurar no garimpo musical-literário, seja por necessidade específica ou vontade de descoberta. A tarefa nem sempre é fácil. Geralmente amontoados e sem muita catalogação, os exemplares residem num caos organizado. Explorar as entranhas, revirar e escavacar em meio a poeira fazem parte da experiência dos alfarrábios. Há quem diga que, se não for assim, não tem graça. E não deixa de ser verdade: com paciência, é possível encontrar boas surpresas.

Este ensaio fotográfico, feito em fins de 2014, tem como palco principal dois alfarrábios. O primeiro é a banca Solar Discos, de Jailson Alvim, famosa pelo bom e relativamente organizado acervo musical, que às vezes se torna itinerante e participa de outros eventos pela capital maceioense. O quiosque é também, em si mesmo, um lugar pra repousar os olhos para apreciar a forma como os discos são dispostos em vitrine. O segundo lugar de destaque é o alfarrábio de Edvaldo Pereira, grande e cheio de meandros, com vasto número de discos e onde é possível encontrar até mesmo um livro autografado pelo próprio Ariano Suassuna por puro acaso.

Mesmo com a diminuição das vendas com o advento das livrarias virtuais e outros fatores, os alfarrábios persistem como local de tradição em Maceió. Ainda há algo de encantamento em se perder, por horas, nesses labirintos imprevisíveis.